Você chega do trabalho cansado, foi um dia péssimo, seu chefe brigou com você, o trânsito estava horrível, você não pode gastar mais naquele mês, mas tudo parece estar saindo do seu controle. Você então abre o aplicativo de comida no celular e pensa: "Meu dia foi péssimo, eu mereço uma pizza para me recompensar."
Em outro dia, você discute com seu namorado, ele não respondeu à sua mensagem, você está insegura, ansiosa, com medo do que pode acontecer. Nesse momento, começa a procurar todos os chocolates que estavam guardados no armário e comê-los para fugir desses sentimentos. Você pensa: "Eu prometi que seguiria a dieta, mas comer chocolate me acalma."
Você então muda de trabalho, se muda de cidade, termina seu relacionamento. Tudo parece novo, incerto e diferente. A única coisa que te traz uma sensação de conforto e segurança é aquele bolo de chocolate com cobertura de brigadeiro que você come desde a infância. Você então pensa: "Tudo já está tão difícil, estou tão triste, vou comer esse bolo para ficar mais feliz."
O que essas três situações têm em comum? Em todas, independentemente das emoções sentidas, a comida foi usada como ferramenta para o manejo dessas emoções. Isso é extremamente comum e algo que todos fazemos em alguns momentos de nossas vidas. Desde muito cedo, aprendemos a nos relacionar com os alimentos de forma afetiva e para amenizar e suprir necessidades emocionais.
Seria então um problema comer de acordo com nossas emoções? A resposta é: depende. Não há problemas em, às vezes, recorrer ao seu prato favorito em busca de um alívio momentâneo, de comer simplesmente para suprir uma necessidade emocional. A questão é: esse é seu ÚNICO recurso para lidar com suas emoções? Você faz isso de forma consciente? Você percebe a presença de suas emoções e o que elas estariam querendo lhe comunicar? O uso desses alimentos mais calóricos e industrializados está afetando sua saúde física? Depois de usar esse alimento para amenizar uma emoção desagradável, você sente culpa e desconforto? Se você respondeu que sim a essas questões, então talvez você esteja em um ciclo de comer emocional.
Quando a comida passa a ocupar um espaço de "válvula de escape" para todas as situações da vida de alguém, isso pode apontar para uma dificuldade em se perceber e manejar as próprias emoções e sentimentos. Toda emoção que aparece em nossas vidas está exercendo uma função; ela aparece para nos sinalizar que algo está necessitando de nossa atenção.
Portanto, comer para aliviá-las não fará com que elas sumam, com que os problemas desapareçam e que a realidade se transforme após aquele alimento. Para isso, é necessário olhar para si, compreender como e por que algumas situações te afetam e desenvolver outras formas de manejar todos esses sentimentos.
Ter uma relação saudável com a comida não significa se alimentar apenas com alimentos considerados saudáveis, mas sim, não deixar que a comida, independente de qual seja, sirva sempre de fuga da realidade e preencha vazios que nunca acabam.
Uma busca por autoconhecimento te permite desenvolver outros recursos e ferramentas para compreender e lidar com suas emoções, te permitindo usufruir da liberdade de escolha do que você realmente deseja para si, para que momentos de prazer com a comida sejam apenas de prazer, e não de culpa e arrependimentos.